Casa Verde, de Amador Bueno a nossos dias
Início do séc. XX. A Revolução Industrial muda o perfil das grandes cidades européias, conflitos entre a organização dos trabalhadores que procuram lutar pela conquista dos direitos e o capital que procura se utilizar do desenvolvimento tecnológico (gerando a automação) para aumentar a acumulação de riqueza e de se expandir. Neste lado do oceano Atlântico, nossa São Paulo também sofria transformações. O final da escravidão, as levas de emigrantes que chegavam (e entre eles a vinda de militantes anarquistas) seu estabelecimento nas lavouras ou como mão de obra na industria que ensaiava seus primeiros passos. A cidade crescia e se espalhava pelo planalto piratininga transformando sítios em loteamentos, vilas que se tornaram dormitórios ou mesmo na região onde o núcleo que formava o bairro era a industria (o que pressupunha alguns serviços de infra-estrutura que a cidade tinha que fornecer).
Dentro desse quadro é que vemos o velho sítio da Casa Verde, que já fora propriedade do aclamado "rei" Amador Bueno (em 1641 pelos espanhóis residentes em São Paulo) e que posteriormente passa ser propriedade do militar José Arouche de Toledo Rendon, descendente de Amador Bueno. Foi nessa época pelo que consta em documentos do arquivo histórico do municipio que a região acaba por ser conhecida popularmente como "sítio das moças da casa verde" e sítio da casa verde. Em 1842 João Maxweel Rudge torna-se proprietário da área da margem direita do Tietê; seus herdeiros em 1913 lotearam a área onde pretendiam criar o bairro como "Vila Tietê".
O empreendimento é bem-sucedido. O nome, no entanto, não resiste a força popular das histórias do sítio das moças da Casa Verde. O desenvolvimento é lento só acelerado no ritmo que os benefícios chegam no bairro (a construção da ponte de madeira, chegada do bonde, a luz elétrica, a construção da igreja, o distrito de paz...). O bairro cresce, a cidade cresce. Hoje, uma megalópole.
Dentro do emaranhado de relações tão complexas é preciso olhar e descobrir "as pontas" que conduzem aos fatos bizarros do cotidiano, dos homens e mulheres que ocupavam um determinado espaço geográfico, sofreram e venceram dificuldades e limitações nas primeiras famílias pioneiras do bairro. E se chegar nos que hoje lá se estabelecem enfrentando novas (e as vezes velhas) dificuldades. Procurar o entendimento do processo que gestou essa cidade, recuperou a memória do micro universo do bairro (das ruas). Viajar no tempo através de documentos, fotos, relatos de família, conhecer o perfil do morador de hoje, unir esses fios e tentar desvendar um pouco da "alma" que pulsa nessa cidade e descobrir nela refletida o gens de ser a humanização.
Cronologia da Casa Verde
1638 - sítio com um total de 200 alqueires, propriedade do "todo poderoso" Amador Bueno Ribeiro (provedor da capitânia, capitão mor, ouvidor, contador de fazenda real, juíz de orfãos) - e aclamado pelos espanhóis - aqui radicado em 1641 como "rei". Na época era cultivado na região trigo, cevado, vinha, produtos considerados tipicamente europeus.
1794 - O tenente coronel José Arouche de Toledo Rendon envia ao seu irmão em Lisboa uma caixa de café produzido no sítio.
1852 - O sítio passa para Francisco Antonio Baruel passando por diversos outros donos.
1882 - João Maxwell Rudge torna-se proprietário do sítio.
1913 - Os herdeiros de Maxwell Rudge decidem lotear o sítio. Em 21 de maio o 1º lote é vendido. Elas dão o nome de Vila Tietê que afinal não foi assimilado pela população continuando a ser conhecida como casa verde.
1915 - Os irmãos Rudge constroem a ponte de madeira sobre o Rio Tietê.
1922 - Chegada do bonde no bairro.
1925 - Lançada pedra fundamental da Igreja S. João Evangelista.
1927 - Lançada pedra fundamental da Paróquia N.S. das Dores.
1928 - Lei nº 2335 de 28 de dezembro cria o distrito de paz da Casa Verde.
1937 - Chegada da luz elétrica do bairro.
1954 - A ponte de madeira é substituída pela atual de concreto.
Origem do nome Casa Verde
O que a lei reconhece como subdistrito na divisão política da cidade, muitas vezes não corresponde ao que a população considera como bairro. O bairro possui características muito próprias que, com o passar do tempo se reforçam e acabam por individualiza-lo de maneira inconfundível tanto para os que moram nele como no conceito geral. Na casa verde vemos um exemplo onde a denominação do bairro resulta da "voz anônima" dos que primeiro se fixaram ou afluíram para la seguindo referências populares e a "criação" de "Vila Tietê" teve que acabar por curvar-se a nomenclatura popular da casa verde. Há controvérsia quanto a origem do nome. Sabe-se no entanto que a história se entrelava com a de moças descendentes de Amador Bueno Ribeiro eram filhas do general José Arouche de Toledo Rendon muito populares entre os rapazes da faculdade de direito do Largo S. Francisco de quem o general foi o primeiro diretor. Alguns relatos dão conta de uma casa verde no sítio na margem dentro do Rio Tietê; outros falam da grande e nobre irmandade Arouche Rendon viviam numa casa verde numa antiga travessa do Colégio (hoje Anchieta). Elas eram conhecidas como "as moças da casa verde da travessa do colégio" as terras do general José Arouche de Toledo Rendon se estendiam até a margem direita do Tietê. Em 1852 morre dona Caetano Antonia, a última das "moças da casa verde" o sítio passa pela mão de vários donos até chegar a família Rudge que acaba por loteá-lo. Mas na voz popular a região continuou a ser chamada como casa verde numa referência a casa.
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Fonte: Casa Verde